31 de outubro de 2011

A CARTA DO JOVEM AO MUNDO

Oi, tudo bem? Posso falar com você um pouquinho? Você me conhece, mas pode não se lembrar. Atualmente falam muito de mim por ai, me veem como baderneiro, como violento, como imaturo, sem responsabilidade. Uns até querem mudar isso, me chamando de futuro do mundo, mas mal conseguem dizer algo. Outros esquecem que passaram pelo que passo e procuram me matar, até atiram em mim.

Morri muitas vezes e continuo morrendo nas ruas, nas favelas, no trânsito. Morro pela bala de revólver, pela droga, pelos automóveis, que, aliás, andam muito rápido. Morro pela ambição do mundo, pela vontade de buscar dinheiro, pela falta de possibilidades de comer, pela má educação. Morro pela irresponsabilidade dos outros, pela minha também, mas queria gritar que não quero mais morrer.

Ah, esqueci de dizer meu nome, me desculpa às vezes sou meio apressado e esqueço de dizer quem sou, me chamo jovem, não lembro quantos anos tenho, mas isso não importa também. Sou magro e gordo, baixo, médio e alto, às vezes sou negro, outras vezes sou branco, pardo, adquiro muitas raças, ah aproveitando isso, queria dizer que não devia existir esse negócio de divisão de raças, somos todos iguais. Tenho olhos verdes, azuis, castanhos, negros, depende apenas da pessoa que estou e que sou. Meus cabelos? Ah, eles também tem várias cores, as vezes resolvo mudar um pouquinho e faço novos modelos, pinto eles de vermelho, azul, mas é só meu jeito de dizer que quero coisas novas. Eles podem ser curtos e compridos, dependendo de como estou e como vejo a vida.

Estou meio assustado hoje com esse mundo, por isso resolvi escrever esta carta. Queria dizer o quanto amo a vida, o quanto adoro viver. Queria mudar o pensamento de vocês, adultos, sobre mim, vocês já viveram o que vivo, num contexto diferente, mas viveram, também foram sonhadores, deveriam me entender. Se não conseguir mudar, gostaria que pelo menos essas linhas que escrevo servissem pra você repensar sua vida, olhar para tudo o que viveu e pedir se valeu à pena.

Estava dizendo que estou assustado com o mundo de hoje. É verdade. Olho para os adultos e vejo homens e mulheres sérios (as), depressivos, se matando pela ambição, passando por cima de tudo para conseguir o que quer. Não quero como jovem viver essa vida. Sou jovem afinal. Poxa, será que não me entendem?

Quero um mundo diferente. Não quero essa herança que me deixam. Não quero revólveres, não quero tanques e aviões de guerra, só quero viver!! Que me deixem viver!! O jovem quer viver, me ouçam... Não quero rios poluídos, arvores caindo, geleiras derretendo, enchentes, terremotos, lixo. Poxa, só quero viver, será que é pedir demais? Não sou descartável como as embalagens, como os carros, sou de carne e osso, sou humano, sou gente também. Não quero brigar contigo.

Todos os dias olho-me no espelho ao acordar, para ver se ainda sou eu mesmo, se não mudei, se não é uma máscara de mim que está ai. Para ver se consigo olhar nos meus olhos e dizer que estou vivo e me amo como sou. Sou tão feliz como jovem. Queria dizer que ser jovem é uma vocação, não é apenas uma fase da vida da gente, depois passa e acaba, uma etapa para ser adulto. Meu coração arde como jovem.

Quero mudar o mundo, não importa como. Mas não quero morrer, não quero ver outro jovem caindo por causa das drogas, da violência. Não quero ver as lágrimas da mãe que perdeu seu filho, da moça mãe solteira, do moço de rua. Quero um mundo melhor, um mundo onde todos sejam iguais, um mundo de paz. Sei que parece utópico, mas posso sonhar. Você me ajuda a mudar? Pode me alcançar sua mão e vamos juntos caminhar? Vamos...!



Cleber Pagliochi

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